Em seu terceiro mandato, o presidente Lula tem enfrentado um fenômeno perigoso para a democracia: a “armadilha da crítica”, mecanismo que, sob o pretexto de fiscalizar o poder, acaba por paralisar políticas públicas, minar a governabilidade e corroer a confiança nas instituições. Essa dinâmica opera por meio da desqualificação sistemática de qualquer medida governamental, independentemente de seu mérito ou impacto social. Programas como a liberação de recursos do FGTS, o “Pé de Meia”, a ampliação do “Desenrola” para pequenos produtores rurais, a proposta de isenção de IR para rendas de até R$ 5 mil, a redução de tributos e até a antecipação do 13º para aposentados do INSS foram alvo desse mesmo viés destrutivo.
A crítica legítima, pilar essencial da democracia, pressupõe fiscalização, transparência e busca por melhorias. O que se vê, porém, é um cinismo esterilizante que, em vez de contribuir para aprimorar políticas, gera descrença e paralisia. A armadilha se sustenta em narrativas que buscam apenas culpados, não soluções; desconfiança, não diálogo; deslegitimação, não aperfeiçoamento.
Três fatores alimentam esse cenário: 1. O extremismo político, que substitui o debate por ataques pessoais; 2. A desregulação das redes sociais, que amplifica a “indústria da indignação”; e 3. Setores da mídia e do mercado (incluindo parte do agronegócio) alinhados a uma agenda de especulação financeira e conservadorismo radical. O resultado é devastador: descrença nas instituições, voto por revolta (não por projeto), e o avanço de lideranças antissistema que vendem soluções autoritárias como saída. Nesse ambiente, o debate público se esvazia, o consenso vira quimera e a democracia definha.
Não se trata, claro, de cercear o direito à crítica – mas de distinguir fiscalização de niilismo. A primeira exige veracidade, proporcionalidade e boa-fé; a segunda se resume a ataques infundados, muitas vezes criminosos (como calúnia e difamação). O desafio é resgatar a “esperança crítica”, àquele que, sem ingenuidade, acredita na reforma das instituições e na política como instrumento de transformação.
Como o governo Lula resiste? Em meio ao desgaste político e ao ceticismo tóxico (“nada funciona, tudo é corrupto”), a sobrevivência do governo se explica por seu compromisso com políticas inclusivas, diálogo social e fortalecimento institucional. Ainda assim, contra a armadilha da crítica, só há um antídoto: mais democracia. Isso significa: 1. Crítica propositiva, que aponte caminhos; 2. Reconhecimento de avanços (sem ufanismo, mas com justiça); 3. Educação política para formar cidadãos, não cínicos; 4. Valorização das instituições, únicas capazes de converter conflitos em progresso.
A superação dessa visão terraplanista (que nega tudo) passa por investir na crítica construtiva, que aponte a solução de problemas e não a deslegitimação das instituições e das autoridades; por reconhecimento de avanços e perseverança na busca de solução; por educação cívica e política como contraponto a essa lógica tóxica; por valorização das instituições, que ajudem a moldar um ambiente de transformação; e por melhorias das condições de vida em sociedade. Se prevalecer a lógica da armadilha da crítica, a alternativa é o abismo ou um país onde a política vira espetáculo de destruição mútua, e o futuro se reduz a escolhe entre fatalismo e autoritarismo. Não é isto o que espera nem merece o Brasil e seu povo.